RELATO DO MEU PARTO – PARTE I – A COMPREENSÃO DA DOR DE
PARTO.
Este é o meu testemunho. Um testemunho cristão sobre a dor
do parto.
Durante a gravidez do Samuel, meu primogênito, eu me sentia
comunicativa e aberta para falar sobre a gravidez, e criei um blog onde relatei
todos os pormenores que para mim eram importantes na época, pensamentos,
sintomas , tudo. Cheguei a flertar com o parto normal, mas a medida que a
barriga crescia, e todos me pressionavam sobre o tamanho do Sam, e eu com meu pânico
de dor, me sentindo fraca e incapaz de passar pelo parto, optei por uma cesárea
eletiva. Infelizmente a médica não fez esforço algum para me incentivar a pelo
menos esperar as dores do parto, ou seja, a esperar o Sam avisar que estava
pronto para nascer. E foi assim que meu primeiro filho nasceu no dia que a
médica escolheu, de acordo com a agenda dela e com
38 semanas e 3 dias.
Na época, foi uma cesárea rápida e tranqüila, eu tenho uma
ótima cicatrização e elasticidade da pele, então voltou rápido o meu corpo ao
normal e a cicatriz hoje é praticamente invisível. Não tive dores na
recuperação, como ouço relatos por aí. A única dor que senti mesmo foi na
cirurgia para pegar a veia no braço , já
a anestesia na coluna não senti nada. E por um momento quase apaguei
totalmente, pois minha pressão baixou. No entanto, mesmo na época que fiz a cirurgia
eu não havia pesquisado nada sobre a cesárea. Eu tinha medo da cirurgia, sabia que
era uma cirurgia de grande porte com muitos riscos, mas o medo de sentir
qualquer tipo de dor era maior do que de fazer esta cirurgia.
E como cada experiência de nossa vida, nos ensina algo, e
cada filho vem como instrumento de transformação , nos ensinando e nos moldando
a sermos melhores filhos para Deus, eu , então, me senti totalmente diferente
nesta segunda gravidez. Estive muito mais introspectiva e menos sociável.
Busquei muito mais a presença de Deus para aprender, e não só para agradecer
como na primeira gravidez. Eu queria entender o que Deus queria me ensinar com
este segundo filho, e coloquei-me diante de Deus como serva e aprendiz,
aguardando o que Ele havia preparado para mim.
A gravidez começou, e eu enjoei muito e isto me desanimou a
fazer o pré-natal. Eu não tinha médica ainda, e pelo plano marquei qualquer uma
que pudesse me atender. Minha intenção era apenas pegar o papel para fazer
ultrassom e exames e ver se estava tudo bem. Ao mesmo tempo orava para Deus
prover um médico que me levasse para o parto que Ele queria que eu fizesse. Fui
desde o início orando neste sentido. Em minha oração , desta vez, eu não pedia
o tipo de parto mas pedia para Deus me conduzir nos mínimos detalhes.
Em minhas orações eu colocava o meu medo da dor do parto,
mas repetia as palavras de Jesus ao final dizendo “seja feita a Tua vontade e
não a minha”, e pedia misericórdia para que eu obedecesse com alegria esta
vontade. Eu não sei se eu tinha só medo do parto, porque minha mente era tomada
pelo medo da dor, era um pânico que me fazia contorcer as pernas e comprimir os
joelhos sempre que ouvia algo sobre o tema ou via algum vídeo. E quando alguém
falava sobre parto normal eu sentia uma angústia no coração, um horror, uma
repulsa profunda. Eu via a dor do parto como uma maldição destinada para Eva.
Eu não era merecedora deste sofrimento, era o que no fundo eu estava querendo
dizer para Deus. Eu tinha medo pavoroso da dor de parto. Achava injusta e
tentava desviar o pensamento com frases sarcásticas, fugindo pelo humor de um
tema que me assombrava. Eu não só temia a dor, eu odiava a dor do parto.
E lá estava eu, grávida novamente, e começando me angustiar.
Sem médico e sem saber o que Deus queria. E se eu morresse no parto? E se eu não
agüentasse a dor? E se o bebê sofresse algum trauma físico ou mental no parto e
ficasse com alguma seqüela para o resto da vida? E a avalanche dos “e se”
começaram a cobrir meu coração de tristeza, como uma nuvem negra que encobre um
dia ensolarado, estar grávida começou a me deprimir. E eu me isolei um
pouquinho mais. Eu ainda estava enjoando e me sentindo ingrata, e me sentindo
velha demais para engravidar, e me sentindo com pavor da dor do parto e da
cesárea, me sentindo sem alegria, sem novidade e isto durou uma semana. Para
mim, não havia novidade, os hormônios me jogaram na lama e o medo da dor do
parto só crescia em mim.
Quando fizemos o exame para descobrir o sexo do bebê, foi
algo tão inesperado, e eu fiquei tão feliz em saber que seria outro menino que
foi uma carga de animo. E assim soubemos que o Lucas estava crescendo em mim.
Voltei a procurar médico, sem êxito, e voltei a orar pelo
parto. Nesta época, minha unha do pé encravou. E foi tão forte e tanta dor, que
a médica receitou antibiótico para o dedo infeccionado. Lembro que uma
madrugada eu bati esta unha inflamada e o coração parecia bater na ponta do pé,
chorei tanto e orei para Deus justificando que seria impossível eu sentir a dor
do parto se estava ali já morrendo com uma dor na ponta do pé. Eu me senti tão
ridícula por chorar de dor, mas o pé latejava. Só com o gelo que o esposo
trouxe, que eu consegui voltar a dormir. Recebi ajuda e dicas de amigas via
whatsapp, e orações por todas as demais pequenas dores que apareceram durante a
gestação e que não convém falar aqui.
E em todo o tempo, o fantasma da dor do parto crescia em
mim, e se alimentava do meu medo a ponto de me tirar a alegria de estar
grávida, e eu lutava contra isto em oração. Cada vez que sentia tristeza orava,
se não tinha forças mandava uma mensagem para uma amiga pedindo oração.
Já com sete meses encontrei um médico voltado ao parto humanizado,
o Dr. Fernando Pupin, aqui de Florianópolis, ele fez o parto de uma amiga
querida anos atrás, e eu resolvi ligar para tentar consulta com ele. Consegui
para a semana seguinte e convenci meu esposo para irmos lá para ver como seria.
E fomos nós três. Ele nos atendeu super bem, falamos sobre a gravidez e sobre o
parto, e meu esposo comentou que preferia a cesárea e eu expliquei os motivos dele
(infelizmente uma prima dele havia perdido o filho no parto por negligência e
violência médica, e isto marcou toda a família, uma tragédia mesmo).
O Dr. Fernando trouxe
tranquilidade e paz para o pré natal. Pediu todos os exames , fiz , e eu sempre
perguntando sobre bebês grandes e parto normal, e ele me tranqüilizava dizendo
que os bebês grandes nascem de parto natural sim. Para mim, já foi
surpreendente que em uma simples conversa ele convenceu meu esposo de que a via
de parto nós teríamos possibilidade de escolher, mas que ele pedia paciência
para pelo menos aguardarmos o início do trabalho de parto. Pois aí o bebê
estaria avisando que está pronto para nascer. Meu esposo achou isto justo, e
concordou. Para mim já era uma pequena confirmação de que pelo menos as dores
eu iria sentir desta vez.
Naquele dia eu vim para casa pensando nisto. Eu vou sentir
as dores de parto. Não importa se vai ser cesárea ou vaginal, eu vou sentir as
dores das contrações. Como será isto? E aí eu comecei a pesquisar.
O caminho que eu fiz foi primeiro orar. Fui na bíblia
procurar o que encontrava sobre dor. Primeiro meditei em Gênesis, quando Deus
fala para Eva sobre a dor do parto logo após eles pecarem. E então eu vi, algo
que não tinha visto antes, que a dor não foi criada naquele momento, Deus , na
verdade, a aumentou grandemente em razão do pecado, ou seja, já havia dor. O
projeto inicial de Deus já considerava a dor, a dor fisiológica já fazia parte
. Em uma simples leitura do versículo isto fica claro, pode espiar em qualquer
versão bíblica, sempre houve a dor do parto. E que dor era esta? Eu queria
saber.
Uma das coisas que eu temia , em relação a dor, era o bebê
ser muito grande. Afinal, eu sou alta e meu esposo também, o bebê dificilmente
seria pequeno, Sam já foi um bebê grande. E ao falar com uma amiga sobre o
parto dela, que foi lindo e domiciliar, ela me disse para parar de falar sobre
o tamanho do meu filho e eu na mesma hora parei.
Depois, fui na Internet pesquisar sobre anatomia feminina,
sobre a dor fisiológica, a razão dela existir. O que acontece no corpo da
mulher durante o trabalho de parto, quais as fases do parto, e isto me fez
meditar que sentir dor faz parte da condição humana. Achei muitos vídeos em
inglês, bem explicativos que me ajudaram a perceber que a vida requer dor. Esta
vida mergulhada em analgesia é coisa moderna. E viver sem sentir nada, é não
viver, não vale a pena.
Neste processo, já faltava menos de dois meses para meu
parto, e eu estava convencida de que sentiria esta dor e que ela fazia parte da
maternidade. Neste momento, um muro se quebrou dentro de mim. Uma nuvem negra
se dissipou de meu coração. Eu iria sentir dor, eu compreendia a dor. Ela não
era mais um monstro sem rosto e desconhecido que me atormentava.
Entretanto, havia outra dor. No mesmo versículo de gênesis
mostra que aquela dor seria aumentada grandemente. Comecei a perceber que minha
reação a dor do parto, com sarcasmo e negação, era, na verdade, uma rebeldia
contra a justiça de Deus. Como eu poderia achar injusto sofrer por algo que
Deus decidiu? Deus , que é justo , perfeito e soberano. Aquele grande acréscimo de dor, era a justiça
de Deus que se cumpria.
A partir daí, eu entendi que havia duas dores. Uma dor do
corpo e outra da alma, que somadas, nos levavam ao limite entre a vida e a
morte. E que toda dor no parto faria parte da vontade de Deus se cumprindo em
mim. E que não havia experiência física que pudesse se comparar a parir. A dor
do parto me ligaria a Deus através de sua justiça se cumprindo em meu corpo e
em minha alma. Através da compreensão desta dor, o entendimento desta bendita
dor transformadora, eu comecei então a desejar em meu coração o parto natural.
Eu comecei a orar a Deus, dizendo que esta era uma oportunidade de eu viver
esta experiência,e eu queria viver. A medida que se aproximava o dia do parto e
eu tinha mais e mais contrações de Braxton, eu comecei a orar pensando que eu
não poderia viver, passar por esta vida, sem viver esta experiência. E então,
comecei a orar pelo parto natural, para Deus conduzir todos os detalhes. Até
aquele momento, ainda não tínhamos certeza se conseguiríamos o financiamento
para o parto, o esposo ainda queria cesárea, e talvez minha mãe não estaria
aqui se o bebê passasse de 40 semanas.
Enfim, eram tantas preocupações, que eu resolvi não me
preocupar. Eu resolvi apenas orar e aguardar. Resolvi também me afastar de todos
e tudo que me trouxesse ansiedade.
Busquei versículos diariamente para meditar sobre confiança em Deus e para
manter na mente o que me trazia esperança e fé.
Eu resolvi me preparar emocionalmente para me entregar
totalmente aos cuidados de Deus. Deixei para que meu esposo se preocupasse com
a parte financeira, apenas continuei orando para Deus dar sabedoria para ele e falei que até o dia do parto não queria saber
nada a respeito. E quando minha mãe falou que não sabia quantos dias ia ficar e
que não sabia quando poderia vir para me ajudar, eu falei que o bebê iria
nascer apesar de todas as coisas, se eu conseguisse pagar a clínica ou não, se
ela viesse ou não, se eu me preocupasse ou não. E falei com paz no coração, era o que eu
estava sentindo.
Desta forma, eu resolvi que não iria me preocupar. Cortei
contado com várias pessoas, e pedi que me enviassem áudios com versículos
bíblicos ao invés de problemas (riso) , e recebi áudios lindos que me ajudaram
mais ainda a meditar na palavra de Deus. Eu não tive vergonha de mergulhar
neste momento, de me entregar mente e corpo para viver esta experiência com
Deus. Pedi orações e informações diretamente em grupos cristãos, e fugi de toda
literatura ou debates com ideologias feministas sobre o parto.
Para mim, estava muito claro que o parto era um momento de
renunciar a mim mesma, um momento de dar a vida por amor ao meu irmão (que será
também meu filho), de me entregar em sacrifício. Eu não estava empoderada, mas
na minha fraqueza sabia que Deus poderia me fazer forte. Eu não me sentia
confiante e certa de que daria tudo certo, eu sabia que o que fosse acontecer,
isto seria o certo e vontade de Deus.
Meditei na passagem bíblica do quarto homem na fornalha, e
pensei que se Deus quisesse que meu parto fosse rápido ele seria, mas se ele
quisesse que eu sofresse por mais horas, assim seria também para sua Glória. Eu
não queria criar expectativas de um parto perfeito e entreguei meu plano de
parto para Deus preencher. E quando falo
isto, não estou dizendo que me mantive ignorante aos detalhes do parto, pelo
contrário, procurei saber o que seria o mais humanizado possível e orei para
Deus , que se possível meu parto fosse assim, mas sempre repetindo no final ,
que a vontade Dele fosse feita, e não a minha. Eu não queria me sentir no
controle de nada, eu queria me esvaziar de mim mesma para que o poder dele
fluísse em mim. Que diminuísse eu, e Ele me guiasse.
O que mais me preocupava era o momento em que dor seria grandemente aumentada, e eu orava a Deus que
tivesse misericórdia de mim, e me ajudasse, e que Jesus passasse comigo este
momento, pois com Ele eu poderia conseguir, sozinha eu não iria de jeito nenhum.
Eu sabia que estava me jogando nesta experiência assim como Pedro que se lançou
para caminhar no mar, e eu sabia que em algum momento durante o parto eu iria
olhar para a situação e começar a afundar. E por este momento, eu também orava.
Eu orava pedindo a Deus misericórdia e força para passar pelo momento de
fraqueza quando a dor fosse maior.
Eu estava totalmente submissa a vontade de Deus. E orava
para que ninguém, nem médico e nem hospital e nem minha família , nem meu esposo
e nem eu mesma atrapalhassem a plena vontade de Deus para este parto. Minha fé,
naqueles dias antes do parto, posso dizer que foi como nunca foi em nenhum
outro momento de minha vida. Deus derramou sobre mim uma paz e tranquilidade, e
as pessoas falavam em ansiedade e eu as exortava em amor para falar com
sabedoria e orar comigo , pois eu estava me preparando espiritualmente para
viver algo grandioso demais para mim.
E com esta compreensão e aceitação da dor do parto, sem
ansiedades, no dia 12 de dezembro as 8:00hrs da manhã eu acordei com um jato de
leite saindo de meu peito direito, e assim começou meu trabalho de parto....
(
parte 2 - O PARTO)